segunda-feira, 5 de março de 2012

E vamos à leitura: DOCE LEITURA, através de um AMARGO VERMELHO

"Se você tem uma coisa a afirmar, você não tem que fazer literatura. Literatura é uma conversa sobre as dúvidas. É uma conversa sobre as delicadezas, sobre as faltas."

Um escritor da delicadeza, da prosa poética, dos sentimentos - assim é Bartolomeu Campos Queirós. E é com seu último livro (Bartolomeu morreu no início desse ano), Amargo Vermelho, que nós vamos começar o Clube de Leitura III - Memórias da Infância.

Diz o autor:

O grande patrimônio que temos é a memória. A memória guarda o que vivemos e o que sonhamos. E a literatura é esse espaço onde o que sonhamos encontra o diálogo. Com a literatura, esse mundo sonhado consegue falar. O texto literário é um texto que também dá voz ao leitor. Quando escrevo, por exemplo: “A casa é bonita”, coloco um p0nto final. Quando você lê para uma criança “A casa é bonita”, para ela pode significar a que tem pai e mãe. Para outra criança, “casa bonita” é a que tem comida. Para outra, a que tem colchão. Eu não sei o que é casa bonita, quem sabe é o leitor. A importância para mim da literatura é também acreditar que o cidadão possui a palavra. O texto literário dá a palavra ao leitor. O texto literário convida o leitor a se dizer diante dele. Isso é o que há de mais importante para mim na literatura.

Pois vamos à liberdade das palavras, da fantasia, dos sentimentos. Esse é o trunfo de um encontro/clube de leitura: ele só é bom se é criativo, se compartilha, se dá voz aos nossos sentimentos, pensamentos. Puxar a infância e chegar até hoje, ou de hoje, chegar à infância - quem há de saber? E importa saber?Abrir caminhos, quanto mais, melhor!

E volto ao POis... Pois como diz o autor:

A memória é o nosso grande lugar. Na memória tem tanto o que vivi quanto o que sonhei ter vivido. Não acredito em memória pura. Toda memória é ficcional. É um pedaço da memória com mais um pedaço da fantasia. A fantasia é o que temos de mais real dentro de nós. A fantasia é a minha verdade mais profunda. A fantasia é aquilo que não conto para ninguém, só para as pessoas que amo muito. Ela é tão verdadeira que quando vou contar essa fantasia, faço uma metáfora para protegê-la. Pois a fantasia é o que tenho de mais profundo dentro de mim. É o meu real mais absoluto. Não existe uma memória pura, toda memória é ficcional. Precisamos tomar posse da fantasia. Todo real é uma fantasia que ganhou corpo. O que põe o novo no mundo é a fantasia. Uma escola nova é uma escola que cultiva a fantasia. Se ela ficar só na tradição, ela só fica na repetição. Ela não instala o novo. É a fantasia que inaugura o novo no mundo. Há cem anos, voar era uma fantasia do Santos Dumont. É preciso saber se quero uma sociedade nova. Preciso de uma escola fantasiosa e convidar a criança para deixar a fantasia vir à tona."

Até amanhã, turma!

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