Clarice menina

E finalizando "Clarice em 3 atos", trocamos nossas impressões sobre o livro, o que mais interessou a cada um, o que ficou e o que não ficou, se é que um texto de Clarice pode não deixar marcas.  Lori precisava de Ulisses? Ele foi protagonista ou coadjuvante em seu processo de crescimento? A literatura de Clarice é eminentemente uma literatura feminina? É possível ler seu texto sem entender tudo? Há de se entender? Toda paixão exige sofrimento? É possível amar sem se amar? - e tantas outras questões, sobre a obra  e a vida, de Clarice e a nossa, tentamos não responder, mas discutir.

E pra terminar o bloco CL, Eliana Yunes, coordenadora da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio e professora de literatura da PUC, esteve com a gente. Eliana situou Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres no conjunto da obra de Clarice Lispector, mostrando que o livro é um marco da segunda fase da escritora, digamos assim, dos romances em que ela busca um diálogo e uma aproximação com o outro, romances menos herméticos. Eliana também chamou atenção para uma outra vertente da autora: seus textos dedicados às crianças, seus contos - muito mais "fáceis", digamos, que seus romances, e que de alguma forma espelham tb esse segundo momento da autora. Uma escritora, lembrou Eliana, que odiava dissimulação - não à toa seu tempo na Europa, como mulher de diplomata, foi tão difícil, conforme revelam suas cartas às irmãs. Embora não seja necessário fazer uma relação entre vida e obra, é fácil perceber, no caso de Clarice, como as duas coisas se cruzam, assim como também se cruzam os textos de CL: vários trechos de suas crônicas no Jornal do Brasil eram importados para seus contos e romances, assim também o inverso. Clarice não era fácil - diz Eliana, que a conheceu na PUC, era capaz de abandonar uma festa a ela dedicada; assim como não é fácil sua literatura, confirma a professora.  Mas lembra ela: quem dela aproveita, quem nela penetra, nunca mais a abandona (já tem gente pronto para ler Água viva).
Eliana contou ainda, de quebra, o início do conto Felicidade Clandestina, lindo!

E, assim, fechamos o primeiro romance do nosso Clube de Leitura. Na próxima quinta-feira, começaremos a leitura de São Bernardo, de Graciliano Ramos. Foi sugerido que a gente dividisse a leitura do livro em três partes. E assim ficou: para o próximo encontro, todos devem ler até a página 80.

Até lá!