domingo, 29 de maio de 2011

Queridos
Envio aqui um resumo/roteiro do que fizemos no encontro passado. Apesar de muitas ausências, foi muito bom... Não é à toa que alguém (não me lembro agora quem...) disse: Lemos para não nos sentirmos sós. É verdade: quando lemos em grupo, menos sós ainda nos sentimos.
Pois, então, a idéia era partir de São Bernardo e andar um pouco além.
1.   Começamos, então, lendo o conto Baleia de Graciliano Ramos, que está no livro Vidas Secas, considerado uma das grandes obras-primas da literatura brasileira,  vencedor, em 1962, do prêmio da Fundação William Faulkner (EUA) como livro representativo da Literatura Brasileira Contemporânea.

O livro tem treze capítulos/contos; Graciliano escreveu-os separadamente, para serem publicados no jornal; todos girando em torno de uma família sertaneja: Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e a cachorra Baleia.

A família pouco se comunica e seu único destino é manter-se viva, custe o que custar.

Se você não conhece o conto Baleia, leia-o abaixo.


A partir da leitura do conto, que é lindo de morrer, tocante, vimos como o autor humaniza o cão, ou ainda, animaliza os personagens de Vidas Secas, retirantes do Nordeste que viviam fugindo da seca, feito bichos. Dessa forma, Fabiano se diz um bicho e a cachorra Baleia se vê responsável por cuidar dos meninos... Fabiano não tem sentimento, e a cachorra Baleia sente uma angústia maior que o mundo...

É lindo como o narrador de terceira pessoa, que parece um distante narrador, um narrador-observador, vai se transformando no cachorro, ele mesmo sentindo a vida a partir do ponto de vista do cão -  um narrador onisciente. Não à toa Baleia aparece sempre na lista dos maiores contos brasileiros e é um texto marcante de Graciliano.

Vale ver  como o fotógrafo Evandro Teixeira, um dos grandes do ex Jornal do Brasil, retratou a Baleia: aquele cão vira-lata, magro, que vive grudado no seu dono, mais pobre ainda que ele, mais magro ainda que ele... no livro comemorativo aos 70 anos de Vidas Secas, que a Editora Record publicou.

2.    Depois de Baleia, lemos o início do livro Em Liberdade, do teórico, professor de literatura brasileira e escritor Silviano Santiago.

Veja a história:

“No dia 13 de janeiro de 1937, por iniciativa de amigos e graças à ajuda do advogado Sobral Pinto, Graciliano Ramos livrou-se da prisão, após quase um ano encarcerado. O que teria sentido o autor de Vidas secas ao arriscar os primeiros passos em liberdade? O fato é que Graça, como era carinhosamente chamado, jamais escreveu uma linha sequer sobre o período que se sucedeu à soltura. Mas deveria ter escrito, pensa o poeta, escritor, crítico e professor Silviano Santiago que, em uma das mais originais viagens literárias de nosso tempo, aventurou-se em imaginar o que Graciliano teria anotado em um diário a respeito do que viu e viveu nos primeiros três meses fora das grades.”

Silviano, depois de estudar durante anos a vida, a obra e o estilo de Graciliano Ramos, tenta escrever como se fosse o autor alagoano, imaginando (a partir da pesquisa que fez) o que Graça pensaria, sentiria e escreveria após sair da prisão, sobre a vida, a escrita e tudo mais. O livro ganhou o Jabuti de Melhor Romance em 1981.

3.    E depois de andar por Graciliano, fomos a um conterrâneo do escritor, que aliás o hospedou no Rio: José Lins do Rego. Lemos o final de Menino do Engenho e vimos como José Lins tem outra pena, como ele descreve o sertão de forma leve, como ele é um grande contador de histórias. Até o próprio Graciliano reconhecia que enquanto Zé Lins escrevia com a maior naturalidade, ele sofria pra escrever... São dois mestres, dois amigos, e no entanto cada um com seu estilo, com seu sertão... isso é o máximo!

Leia Menino do Engenho: você vai se encantar!

Para quinta-feira: vamos começar a leitura de Um copo de cólera, de Raduan Nassar. Vamos ler juntos na quinta-feira, ok? Traga seu livro!

Um beijo e até lá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário