domingo, 22 de maio de 2011

Nosso último encontro foi animado. Contamos com a volta da Beatriz (que bom!) e com a entrada de mais uma participante, Catarina (bem-vinda!).

Nossa discussão girou em torno da personagem Madalena. Ela era transgressora ou não? O que representa nesse momento (da sociedade e da literatura brasileira) uma personagem-professora vanguardista? Qual a percepção que Paulo Honório tem dela? Como o autor reflete o determinismo da sociedade e o realismo literário? O que representa a morte de Madalena para Paulo Honório e para a construção do romance?- foram algumas das questões levantadas.

Além disso, discutimos um pouco mais a construção da narrativa, como Graciliano vai construindo a memória, a sua memória, como explicita o processo criativo, como vai dando vida ao narrador, à sua percepção de si mesmo.

Sinceramente, a noite foi boa! E ainda teve os docinhos da Natália, deliciosos, e os vinhos do Henrique, gracias!

Próxima quinta: último ato de São Bernardo. É hora de cada um trazer algo que a leitura inspirou - outro texto de Graciliano? Outra professora na literatura? Uma foto? - o quê? E quem não quiser, não traz nada... traga-se!

Beijos, e até quinta, e vejam que interessante o que disse Graciliano Ramos sobre Madalena ao grande cineasta Nelson Pereira dos Santos:

STUDOS AVANÇADOS Antes de adaptar Vidas secas você pensou em filmar São Bernardo. No entanto, você pretendia alterar o destino de Madalena. Você entrou em contato com Graciliano Ramos sobre essa alteração. Conte-nos como foi essa conversa com Ramos. (entrevista completa disponível em http://www.scielo.br/pdf/ea/v21n59/a25v2159.pdf)

NPS
O diretor de fotografia do filme, Rui Santos, era amigo de Graciliano Ramos e me pediu para fazer a adaptação de trabalho, filmava de dia e escrevia à noite. Empaquei ao chegar ao capítulo do suicídio de Madalena. Não queria que ela morresse. Propus, no lugar do suicídio, a fuga da fazenda. Rui Santos, temendo a reação do “Graça”, recomendou-me consultar o autor antes de mudar a história de Madalena. Em resposta, Graciliano disse que eu poderia fazer isso, desde que tirasse o seu nome da história, porque a modificação proposta não era de sua autoria e sim invenção alheia. Na segunda parte da carta, ele disse que eu estava pensando na mulher dos dias de hoje, seres mais livres. Era bom lembrar que – advertiu – no romance tratava-se de uma mulher em 1930, no interior de Alagoas, casada com Paulo Honório, um homem prepotente,egoísta, durão e mesquinho. Ela, com sua vocação socialista que a faz cuidar até das doenças dos vaqueiros, e, ele, que acha que aquela gente tem que trabalhar sem dó e sem piedade para lhe render mais lucros. Esse conflito, e mais a diferença de idade, leva Paulo Honório a ter ciúmes até do padre. A situação vai ficando insuportável para a frágil Madalena. Ela não poderia fugir, nem pensava nisso, porque sabia que os capangas do marido iriam atrás dela. Se ela não tivesse escolhido a morte, Paulo Honório não entraria na crise que o levou à decadência. Ele não procuraria entender por que ela se matou e não se dedicaria em escrever a história. E, “se ele não escrevesse o livro, eu não escreveria o meu, e você não pensaria em fazer um filme” – foi mais ou menos assim que Graciliano concluiu o seu pito ao jovem roteirista.


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