quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lolita 3


Lolitas modernas: a fascinação permanece


A Lolita anoréxica: top model do século XXI

Queridos

Vamos retomar e finalizar nosso primeiro livro deste Clube II... Lolita, o final.
Em nosso último encontro, tentamos perceber o quão de bom e de ruim havia, ou aparecia na narrativa, em Lolita e em Humbert Humbert. O céu e o inferno andarão sempre juntos?  Será que a grande questão não é “ser ou não ser, mas ser e não ser?
Essa dualidade: Lolita, a ingênua menina e a sedutora adolescente, “a vadia perversa e adorada” (p.277); HH, o pai e o carrasco; a vítima e o algoz; uma história de amor (“O fato é que eu a amava. Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, à vista de todo o sempre” – p. 314) ou uma história de crueldade é que talvez faça com que este romance permaneça provocando, instigando, vivo nos leitores, despertando amor e ódio.  Por isso ele me interessou, me fazendo abrir este Ciclo – “Os grandes romances abalam”, diz o posfácio de Martin Amis.
Além, é claro, do texto delicioso de Nabokov, como um escritor é capaz de construir uma história de forma tão elaborada, com tantos detalhes, com tantas nuances, com drama e com humor, com uma fina ironia, aliás. Incrível!
Pois penso que podemos planejar nosso último encontro sobre o livro da seguinte forma:
1.  Começamos comentando o fim do livro... e aí? HH se redime? Há uma diferença nesse terceiro momento do romance? Ele é mais implacável com ele mesmo ou não? Diante do seu julgamento, há alguma mudança? O que cada um achou?
2.Entramos na questão da construção da narrativa e aí eu sugiro: vamos ver como o humor está presente no texto.
“O que provoca o riso dos seres humanos? Não a simples alegria ou ironia. Que o riso exclua a seriedade é um equívoco muitas vezes cometido pelos desprovidos de humor – e por essa multidão bem mais numerosa, os que nunca riem, os deficientes ou pouco dotados em matéria de humor. Os seres humanos riem, se formos prestar atenção, para exprimir alívio, exasperação, estoicismo, histeria, constrangimento, repulsa e crueldade. Lolita talvez seja o romance mais engraçado da nossa língua, porque admite toda a complexidade e diversidade do riso.” (Martim Amis, nos posfácio, p. 389)
Assim, sugiro como dever de casa: selecionem uma passagem do livro que fez vocês rirem. Vamos ver como Nabokov enriquecea narrativa através do humor.
3. Dever de casa comum aos terceiros encontros: cada um leve algo que pensou, que descobriu, que viu, a partir do livro. Uma sugestão de leitura, de um filme, uma história da vida real, uma matéria de jornal, enfim, algo a partir do livro lido. Se for texto, levem para os colegas. Se for vídeo ou algo assim, me avisem para eu levar o computador.
4. Vamos ouvir nosso convidado.
Ok, turma, a programação está feita. Até amanhã, com o romance que dá o que falar... Lolita.  
Espero vocês, beijos

Um comentário:

  1. oi
    apreciei muito a última reunião – a terceira e última sobre a lolita – em particular pela atmosfera envolvente que imperava naquela sala e suas almofadas confortáveis.
    os cavalheiros falando em francês também conferiram ao evento um tanto de luz e outro tanto de sonoridades, em tão aconchegante encontro.
    inábil, contudo, no convívio social, saí mais cedo, levando na algibeira o livro do ubaldo, que li tem meia dúzia de anos. naqueles tempos, tal como agora, não sei o que significa ‘pornográfico’.
    a despeito das incursões – culpadas ou em acting out - nestas terras, o pornográfico de que trata o drummond me desconcerta.
    li, vezes sem conta, sentado no banheiro de empregada, seus azulejos brancos, altos, suas louças pobres no espaço exíguo, as latas e as garrafas bem ali ao alcance da mão, talvez toda a obra bukowiskiana traduzida em português, e três ou quatro livros de poemas da city news e arrow press.
    descrobri, satisfeito, lá pela página 400 ou 500 do pornopopéia, do reinaldo moraes, que fora ele o tradutor de ‘mulheres’, do buk, nos idos da brasiliense dos anos 80, lançando toda aquela contracultura proibida na ditadura. o mulheres foi o primeiro livro do hank que comprei, num sebo das galerias comerciais que rodeiam o calçadão da rua halfeld, em jf. devia ser meio que 86 ou 87. depois fui juntando todo o resto, bem, sabe como é. e não é que o pornopopéia é um mulheres, bem melhorado? legal, né.
    não é linear, realista americano, mas tem aquelas idas e vindas todas, o autor, canalha, lá enganando o leitor, maneiro.
    bem, mas o assunto era os budas, e o drummond. aquelas coisas que a velhinha com aneurisma conta, aquelas coisas que o zeca faz, essas coisas são a mesma pornografia do drummond, na poesia dele? é, eu não sei. parece que são coisas diferentes. mas, que bom! talvez a gente fale sobre isso nas próximas reuniões! beijos!

    (drummond)

    Em face dos últimos acontecimentos

    Oh! sejamos pornográficos
    (docemente pornográficos).
    Por que seremos mais castos
    que o nosso avô português?
    Oh! sejamos navegantes,
    bandeirantes e guerreiros
    sejamos tudo que quiserem,
    sobretudo pornográficos.
    A tarde pode ser triste
    e as mulheres podem doer
    como dói um soco no olho
    (pornográficos, pornográficos).
    Teus amigos estão sorrindo
    de tua última resolução.
    Pensavam que o suicídio
    fosse a última resolução.
    Não compreendem, coitados,
    que o melhor é ser pornográfico.
    Propõe isso ao teu vizinho,
    ao condutor do teu bonde,
    a todas as criaturas
    que são inúteis e existem,
    propõe ao homem de óculos
    e à mulher da trouxa de roupa.
    Dize a todos: Meus irmãos,
    não quereis ser pornográficos?

    http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema011.htm

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