sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Próximo encontro: Nelson Rodrigues 2


Nelson inicia sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando trinta mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era alto, magro e seus cabelos eram indomáveis. Embora fosse filho do patrão, teve que comprar calças compridas para impor respeito aos colegas de redação.
O autor impressiona os colegas com sua capacidade de dramatizar pequenos acontecimentos. Especializou-se em descrever pactos de morte entre jovens namorados, tão constantes naquela época.
Na zona preta do Mangue, na rua Pinto de Azevedo, estavam concentradas as prostitutas mais pobres e esculhambadas, negras na maioria, a dois mil réis por alguns minutos. Mas o autor preferiu as da rua Benedito Hipólito, mais asseadas e que ficavam em ambientes melhores, embora o preço subisse para cinco mil réis. Ali, aos catorze anos, Nelson foi pela primeira vez com uma mulher para dentro de um quarto. Ficou freguês.
veja a biografia completa e turbulenta de NR em http://www.releituras.com/nelsonr_bio.asp


Um escritor polêmico, um jornalista de primeira, um tricolor fanático, um dramaturgo brilhante. Nelson Rodrigues era contra a unanimidade - toda unanimidade é burra, dizia - mas ele é uma unanimidade. E nada mais oportuno que ler NR este ano, quando o autor faria 100 anos - e vai ser até enredo da Viradoruo!

Pois nossa noite ontem foi bem legal! Começamos lendo juntos o capítulo 6, quando Sabino encontra o Monsenhor. Um capítulo que revela todo o estilo de NR, seu humor, sua observação aguda, sua crueldade, seu estilo coloquialíssimo, sua crítica às instituições. Hilariante!

A seguir, lemos algumas  frases e citações de Nelson e sobre Nelson, transcritas abaixo. A partir delas, nos propusemos a discutir a família no livro O Casamento. Afinal, para Nelson, a família é o inferno de todos nós. Sorteamos as duplas e as famílias... e depois apresentamos ao grupo a discussão. Bem legal!

E para terminar, esta que vos fala escolheu um texto de Bartolomeu Campos Queirós, o Vermelho Negro, seu último livro. Aparentenmente nada a ver com Nelson.... talvez nada a ver com Nelson... mas por quê, então? Talvez a associação seja minha, talvez equivocada até. O que quis foi mostrar, através de um escritor tão diferente, a repercussão da família na vida da gente. Foi essa a ideia. Desculpe se fomos do chulo ao mais lírico, do irônico ao mais melancólico, do divertido ao triste... A leitura nos traz coisas que muitas vezes são muito particulares. Mas enfim vocês que, tenho certeza, gostaram do texto, vão poder fazer um parênteses e usufruir de um livro que é uma pérola sobre a vida e as perdas. E a família: o céu e o inferno de todos nós.

Até quinta que vem, com a leitura completa de O Casamento! Bom fim de semana a todos,


De Nelson Rodrigues:
“A família é o inferno de todos nós.”

“O homem só começa a ser homem depois dos instintos e contra os instintos.”

“Somos todos leprosos! E o mal é que ninguém reconhece a própria lepra.“

“O homem de bem é um gângster da virtude.”

“Se cada um conhecesse a intimidade sexual dos outros, ninguém falaria com ninguém.”

“Em cada família, há trevas que convém não provocar. “

“O que não se diz apodrece em nós.”

“E continuarei trabalhando com monstros. Digo monstros no sentido de que superam ou violam a moral prática e do quotidiano. As coisas atrozes e não atrozes não me assustam. Escolham meus personagens com a mesma calma e jamais os condeno. Quando se trata de operar dramaticamente não vejo em que o bom seja melhor que o mau. Passo a sentir os tarados como seres maravilhosamente teatrais.”
 Sobre Nelson Rodrigues:

“Homens e mulheres que não podem alcançar a felicidade por causa de uma castração que sofrem, uma amputação que lhes retira uma parte que seria essencial à sua integridade física e moral. Incompletas, essas personagens são incapazes de atingir a realização, tendendo assim para o caminho inevitável da tragédia.
NR utiliza-se do trágico não como gênero, mas como ideia, atualizando esses clichês em fatos que compõem o cotidiano do homem moderno – “a vida como ela é. Clichês trágicos: fatalidade, destino, vingança, incesto, assassinato, disputas familiares, complexo de Édipo, pederastia, o sadismo e o masoquismo,
A família nas tragédias de NR é alicerçada por silêncios e negações, com atitudes sem nenhum processo de reflexão. Desde seu início, apresenta lacunas que acabam sendo preenchidas de modo completamente improvisado pelos sentimentos que vão surgindo sem poder ser controlados. “
Nelson Rodrigues, O inferno de todos nós. Carla Souto

Nelson também tocou num nervo sensível da cultura brasileira. Por baixo do manto da harmonia, da cordialidade, da simpatia – que envolve o cotidiano brasileiro, de suas famílias tão emotivamente comprometidas, ele vê atrações mal resolvidas, confissões humilhantes, taras incontroláveis, juízos desesperados. E isso não encaixa no figurino da auto-estima nacional.
Santos e canalhas: uma análise antropológica da obra de Nelson Rodrigues. Adriana Facina



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