sexta-feira, 9 de março de 2012
Bartô 1
Mas por que começar um clube de leitura com um livro intimista, denso, triste, de um autor pouco conhecido fora do mundo literário e acadêmico?
Mas por que não?
Pois foi com um livro do escritor carinhosamente apelidado Bartô, que começamos nosso terceiro Clube de Leitura, na última terça-feira. O livro é Amargo Vermelho (ou seria Vermelho Amargo?), não por acaso (creio eu), o último livro de Bartolomeu Campos de Queirós, que morreu este ano.
O livro aponta para uma discussão que é a pauta do momento e que envolve as palavras ficção, biografia, autobiografia e autoficção. Existe diferença? Uma biografia promete contar a verdade e nada mais do que a verdade? Nesse sentido, ela é "real", não é ficção? É por isso que as livrarias separam os livros de ficção do não ficção (e aí as bios se incluem)?
Mas e quando a biografia é contada pelo próprio personagem de que fala, numa identificação total entre autor e personagem? Ela continua também sendo real? Ou a memória é invenção, como alerta Bartolomeu, e nesse sentido uma autobiografia também é ficção?
E há biografias e biografias? Ou seja, há livros que são biografias jornalísticas e outros que são biografias ficcionais?
Nesse caso, eles podem fazer parte do gênero autoficcção - uma forma de misturar dados reais com outros não tão reais assim, narrados por uma voz preocupada com a linguagem e com literariedade?
Coloco essas perguntas todas, pois é assim que o momento se faz: essas palavras estão aí, em livros, oficinas, artigos, sendo diferenciadas por uns, e assemelhadas por outros. Há quem ache que tudo é uma grande bobagem (veja o artigo de Giron, A onda e a praga da autoficção, em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI82259-15230,00-A+ONDA+E+A+PRAGA+DA+AUTOFICCAO.html; há quem ache que é uma discussão pertinente, que envolve a questão do eu na modernidade, o sujeito em cena - veja o texto O sujeito em cena de Karl Erich, hoje Diretor do Departamento de Letras da PUC, entregue no clube. Diz ele:.
Autoficção é uma ficção? Sim e não, é uma ficçãoque se apropria da experiência de vida, uma escrita que utiliza a ficção para penetrar no que aconteceu numa história que se constrói enquanto relato motivado pelo desafio de vida que essa experiência impõe.
Negócios e discussões à parte, partimos para o livro de Bartô. Ah, antes Stella nos apresentou a enorme coleção do autor de que ela dispõe. Livros para todos os gostos e todas as idades! Usufruam!
E aí, quase aos sussurros, aproveitando as palavras, esticando as palavras, sentindo o tomate ser cortado, fatia a fatia, fomos lendo esse livro que é uma pérola, um gemido, uma dor. Uma delicadeza. Uma inspiração.
Vamos continuar na próxima SEGUNDA, às 20h. Você vem?
Traga o livro. Traga uma foto sua quando criança.
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Que vontade de ter estado com vcs.
ResponderExcluirBartô era meu amigo,cada fala dele era poesia pura.
Tive o previlégio de conviver com a pessoa e com seus livros.
Aproveitem!
Elzinha, e vc faz falta! Volta logo, secretária-amiga, bjs
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